Na noite de 13 para 14 de janeiro da 1943, no rio Don, encontravam-se
colocadas as baterias do VI Regimento húngaro da artilharia, "Klapka
Gyorgy".
Ali em uma das baterias, seu comandante, o Tenente Sándor Lévay,
velava à espera da manhã. Imaginava talvez o inferno que explodiria algumas
horas depois.
E o inferno chegou. Chegou com as primeiras luzes da manhã. Os canhões
dos vermelhos, em uníssono, como que respondendo a uma só ordem, abriram fogo,
atroando o espaço e levantando nuvens de terra e concreto, com o impacto de
seus disparos.
As posições húngaras, golpeadas, sem descanso, começaram a ceder. Logo
após veio a retirada, em busca de maior proteção. Ao ser rompida a frente,
apenas alguns pontos resistiam à investida comunista.
Por fim, em meio àquele dilúvio de projéteis, um posto permaneceu
isolado como uma ilha no vórtice da tempestade
Era "Gibraltar", designação em código pela qual era conhecido
o posto de observação do Tenente Lévay.
De "Gibraltar", na primeira linha, partia o fogo cujas
quatro baterias húngaras que respondiam ao canhoneio dos comunistas.
E em "Gibraltar", o jovem tenente, com seu telêmetro, era
quem o orientava.
Por fim, em meio àquele estrondo ensurdecedor, onde se confundiam o
zunir dos próprios projéteis húngaros e os dos inimigos com o espocar das
granadas de todos os calibres, o lamento dos feridos com as ordens de comando,
o Tenente Lévay encontrava-se praticamente sozinho, isolado de seus camaradas,
irremediavelmente condenado.
Da retaguarda húngara, com uma clara visão da situação, partiu uma
ordem telefônica:
"Tenente Lévay, deve empreender a retirada. O comandante de seu
batalhão está morto. A segunda bateria já foi obrigada a retirar-se. Oskino foi
tomada pelos comunistas. Pode sair unicamente pela IV bateria. Apresse-se.
Estamos aguardando."
Ao que o tenente Lévay responde:
"Meu coronel, daqui não saio. Estou num excelente ponto de
observação. Somente me retirarei quando não mais puder ser útil."
Às 11 da manhã, o fogo inimigo continuava, sem trégua. Outra vez
escutou-se o chamado do único telefone com que contava a retaguarda para
comunicar-se com o posto de Lévay: "Tenente, é uma ordem! Apresente-se
imediatamente. Não aceito nenhuma recusa. Execute-a imediatamente!".
Eram 3 horas da tarde, e todos ouviam ainda sua voz, a comandar as baterias
húngaras.
Finalmente, devido a exigências da situação, os disparos da artilharia
tiveram de ser dirigidos praticamente sobre a posição de Lévay. Os comunistas
encontravam-se a poucos passos do local.
Foi então que um oficial da V bateria, seu melhor amigo, tomou o
telefone:
"Sanyi, não sejas louco, retire-se! Pela direção de nossos
disparos, vejo que estamos quase bombardeando tua posição".
O tenente Lévay dá uma resposta, lacônica, parecia vir do século V
antes de Cristo, das Termópilas:
"Enquanto puder ser útil, não me retirarei. Dois de nós ainda
estão vivos, temos duas granadas e duas pistolas cada um. Vou orientar os
últimos disparos".
O oficial, seu amigo, diz:
"Tudo bem... Vou atirar com tudo o que eu tiver por 3 minutos
sobre os vermelhos. E você tenta se retirar! Se não der certo que Deus esteja
com você".
O fogo recrudesceu. Três minutos depois, apenas o silêncio reinava na
posição ocupada pelo heroico tenente. Chamava-se Sándor Lévay e tinha 23 anos.
Seus camaradas jamais se esqueceram de seu eterno sorriso e de seus alegres
olhos azuis.
Trecho do livro formado pelos diários dos combatentes húngaros:
A magyar katona a második világháborúban
O exército húngaro na
Segunda Guerra Mundial.