quarta-feira, 31 de maio de 2017

Sándor Lévay

Na noite de 13 para 14 de janeiro da 1943, no rio Don, encontravam-se colocadas as baterias do VI Regimento húngaro da artilharia, "Klapka Gyorgy".

Ali em uma das baterias, seu comandante, o Tenente Sándor Lévay, velava à espera da manhã. Imaginava talvez o inferno que explodiria algumas horas depois.

E o inferno chegou. Chegou com as primeiras luzes da manhã. Os canhões dos vermelhos, em uníssono, como que respondendo a uma só ordem, abriram fogo, atroando o espaço e levantando nuvens de terra e concreto, com o impacto de seus disparos.

As posições húngaras, golpeadas, sem descanso, começaram a ceder. Logo após veio a retirada, em busca de maior proteção. Ao ser rompida a frente, apenas alguns pontos resistiam à investida comunista.

Por fim, em meio àquele dilúvio de projéteis, um posto permaneceu isolado como uma ilha no vórtice da tempestade

Era "Gibraltar", designação em código pela qual era conhecido o posto de observação do Tenente Lévay.
De "Gibraltar", na primeira linha, partia o fogo cujas quatro baterias húngaras que respondiam ao canhoneio dos comunistas.
E em "Gibraltar", o jovem tenente, com seu telêmetro, era quem o orientava.

Por fim, em meio àquele estrondo ensurdecedor, onde se confundiam o zunir dos próprios projéteis húngaros e os dos inimigos com o espocar das granadas de todos os calibres, o lamento dos feridos com as ordens de comando, o Tenente Lévay encontrava-se praticamente sozinho, isolado de seus camaradas, irremediavelmente condenado.

Da retaguarda húngara, com uma clara visão da situação, partiu uma ordem telefônica:
"Tenente Lévay, deve empreender a retirada. O comandante de seu batalhão está morto. A segunda bateria já foi obrigada a retirar-se. Oskino foi tomada pelos comunistas. Pode sair unicamente pela IV bateria. Apresse-se. Estamos aguardando."

Ao que o tenente Lévay responde:
"Meu coronel, daqui não saio. Estou num excelente ponto de observação. Somente me retirarei quando não mais puder ser útil."

Às 11 da manhã, o fogo inimigo continuava, sem trégua. Outra vez escutou-se o chamado do único telefone com que contava a retaguarda para comunicar-se com o posto de Lévay: "Tenente, é uma ordem! Apresente-se imediatamente. Não aceito nenhuma recusa. Execute-a imediatamente!".

Eram 3 horas da tarde, e todos ouviam ainda sua voz, a comandar as baterias húngaras.
Finalmente, devido a exigências da situação, os disparos da artilharia tiveram de ser dirigidos praticamente sobre a posição de Lévay. Os comunistas encontravam-se a poucos passos do local.

Foi então que um oficial da V bateria, seu melhor amigo, tomou o telefone:
"Sanyi, não sejas louco, retire-se! Pela direção de nossos disparos, vejo que estamos quase bombardeando tua posição".

O tenente Lévay dá uma resposta, lacônica, parecia vir do século V antes de Cristo, das Termópilas:
"Enquanto puder ser útil, não me retirarei. Dois de nós ainda estão vivos, temos duas granadas e duas pistolas cada um. Vou orientar os últimos disparos".

O oficial, seu amigo, diz:
"Tudo bem... Vou atirar com tudo o que eu tiver por 3 minutos sobre os vermelhos. E você tenta se retirar! Se não der certo que Deus esteja com você".

O fogo recrudesceu. Três minutos depois, apenas o silêncio reinava na posição ocupada pelo heroico tenente. Chamava-se Sándor Lévay e tinha 23 anos. Seus camaradas jamais se esqueceram de seu eterno sorriso e de seus alegres olhos azuis.

Trecho do livro formado pelos diários dos combatentes húngaros:

A magyar katona a második világháborúban
O exército húngaro na Segunda Guerra Mundial.