segunda-feira, 13 de abril de 2015

Os Filhos - Gibran Khalil Gibran

E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."

E ele disse:
           
Vossos filhos não são vossos filhos.           
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesmo.           
Vêm através de vós, mas não de vós.           
E embora vivam convosco, não vos pertencem.           
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,           
Porque eles têm seus próprios pensamentos.           
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;           
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.           
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,           
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados. 
          
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.           
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.           
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:           
Pois assim como ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável.

Livro O Profeta - Os filhos

Gibran Khalil Gibran

O Matrimônio - Gibran Khalil Gibran

Então, Almitra falou novamente e disse: “E que nos dizes do matrimônio, mestre?”
E ele respondeu, dizendo:
Vós nascestes juntos, e juntos permanecereis para todo o sempre.
Juntos estareis quando as brancas asas da morte dissiparem vossos dias.
Sim, juntos estareis até na memória silenciosa de Deus.
Mas que haja espaço na vossa junção e que os ventos do céu dancem entre vós.
Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão: que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
Enchei a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.
Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho, assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.
Dai vossos corações, mas não os confieis à guarda um do outro.
Pois somente a mão da vida pode conter vossos corações.
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia; pois as colunas do templo erguem-se separadamente, e o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro.

Livro O Profeta - O matrimônio

Gibran Khalil Gibran

O Amor - Gibran Khalil Gibran

Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão, e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse: 
“Quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; e quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos; e quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda.
E da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol, assim também desce até vossas raízes e as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez. Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura. Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações e, com esse conhecimento, vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso amor, procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor, então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a eira do amor, para entrar num mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Pois o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga: “Deus está no meu coração”, mas que diga antes: “Eu estou no coração de Deus.”
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam estes os vossos desejos: de vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite; de conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada; de ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor e de sangrardes de boa vontade e com alegria; de acordardes na aurora com o coração alado e
agradecerdes por um novo dia de amor; de descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor; de voltardes para casa à noite com gratidão; e de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-venturança.”

Livro O Profeta - O amor

Gibran Khalil Gibran

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Onde estás Oliver Cromwell?

Chegou a altura de eu pôr termo à vossa ocupação destes lugares que haveis desonrado com o vosso desprezo por toda a virtude e conspurcado com a vossa prática de todos os vícios.

Sois um grupo faccioso e inimigo de todo o bom governo. 

Sois uma matilha de miseráveis mercenários e, tal como Esaú. "Vendereis o vosso país por um caldo e, tal como Judas trairíeis o vosso Deus por algumas moedas.

Haverá alguma virtude que ainda reste entre vós? Haverá algum vício que não ainda não possuas?

Não tendes mais religião do que o meu cavalo. O ouro é o vosso Deus.

Qual de vós não trocou a consciência por subornos? Haverá algum homem entre vós que cultive o mínimo interesse pelo bem da Comunidade Britânica? 

Não tendes vós, sórdidas prostitutas, profanado este lugar sagrado e feito do templo do senhor um covil de ladrões com os vossos princípios imorais e práticas perversas?

Viestes a tornar-vos intoleravelmente odiosos para toda a nação. 

Estes lugares lhes foram delegados pelo povo para que as injustiças fossem reparadas, mas vós próprios vos haveis tornado na maior das injustiças.

Daí que o vosso país me chame a limpar este estábulo de Augias, pondo um ponto final nos vossos iníquos comportamentos nesta Câmara; o que, com a ajuda de Deus e a força que ele me conferiu, eu venho agora fazer.

Ordeno-vos, portanto, sob ameaça contra as vossas vidas, que abandoneis imediatamente este lugar!
Ide, tratai de sair!
Apressai-vos!
Desaparecei, venais escravos!

Levai a quinquilharia lustrosa que ali está (apontando para o simbolo cerimonial do cargo) e fechais as portas!

Em nome de Deus, ide!

Oliver Cromwell - Discurso proferido quando da dissolução do parlamento em 1653