quarta-feira, 7 de março de 2012

Beijo póstumo

Eu morrerei: a grande noite austera
vem chegando com o tempo que não para;
já a cova negra minha carne espera
e, abrifauce e faminta, se prepara...

Quando tudo renasce à primavera,
eu só não tornarei da terra ávara;
e, do meu corpo, que não chão se altera,
brotará a mangerona, humilde e rara.

Em nome deste amor, vai lá, querida,
e sobre a tumba compassiva e pura,
colhe uma planta de meu ser nutrida.

Beija-a, porque aos teus beijos de ternura,
logo os meus ossos, como outrora em vida,
palpitarão de amor na sepultura.

Stecchetti