segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Eu não quero pensar mais..



E que para mim tudo está terminado.
Mas, quando as coisas duram muito tempo, pode-se dizer que elas, às vezes dão certo, às vezes errado.
Quem, com efeito, exceto os deuses, está ao abrigo do mal durante toda a sua existência?
Deverei contar-lhes as nossas fadigas, as nossas penosas noites ao ar livre, os pequenos espaços onde nos deitávamos no chão?
Que hora do dia não nos ouviu gemer e lamentar?
Dormindo diante das fortificações do inimigo, e do céu e da terra, a chuva e o orvalho dos prados escorria sobre nós, molhando sem cessar roupas e corpos.
E se lhes descrevesse o inverno matador de pássaros, que a neve tornava intolerável, ou o verão ardente quando, ao meio-dia o mar calmo e sem ondas dorme no seu leito.
Mas de que serve atormentar-se?
O castigo acabou, acabou mesmo.
Os mortos não se erguem da terra ensanguentada.
De que serve contar os mortos e fazer sofrer aos vivos a ira da sorte?
Eu não quero pensar mais na desgraça.

Homero